sábado, 9 de abril de 2016

Livro introduz crianças ao trabalho infantil na China através do olhar de uma boneca

Crédito: Reprodução do livro "O sonho de Lu Shzu"/Editora Mov Palavras

Por Carolina Pezzoni, do Promenino, com Cidade Escola Aprendiz

“Com o tempo, fica difícil explicar como nasce uma história”, afirmou o escritor espanhol Ricardo Gómez, autor de livros para crianças e jovens. A narrativa da obra se faz e refaz, “somando impressões e desejos”, distraindo-se do primeiro fio de pensamento – esmerou-se em descrever ao Promenino sobre o seu livro publicado mais recentemente no Brasil, pela editora Mov Palavras, cuja temática é o trabalho infantil: O sonho de Lu Shzu.

Ainda mais difícil é explicar às crianças do mundo a permanência da situação que vive a sua protagonista: uma dagonmei, que significa menina trabalhadora, condição comum para as meninas e meninos criados na cidade de Shenzen e na região do delta do Rio Pérola, uma das mais desenvolvidas no sul da China. Lu Shzu desperta todos os dias antes de nascer o sol e toma o seu caminho para a fábrica de brinquedos, onde seus dedos mínimos de criança são úteis para encaixar milhares de olhos sem brilho em rostos de bonecas que jamais podem ser suas.

"A literatura é precisamente o que nos permite organizar o ruído do mundo e nos fortalecer para viver nele." (Ricardo Gómez)

Trata-se de uma narrativa forjada a partir de uma distorção fundamental: a crueza desta realidade – como observa o autor, não muito diferente do trabalho infantil em outros lugares do mundo – ante o consumo desenfreado nos países ocidentais. “Existe um enorme cinismo social em relação ao trabalho infantil, sobre o qual preferimos fechar os olhos. Se fizéssemos uma lista de todos os produtos que utilizamos e que provêm da exploração, seja infantil ou adulta, ficaríamos impressionados”, argumenta Gómez.

Esta não é a primeira vez que a literatura articula a respeito. No século 19, os romancistas Charles Dickens e Charles Kingsley já lembravam as contradições geradas pela Revolução Industrial, que empregara milhares de crianças em fábricas e minas na Europa. A eles, o criador de Lu Shzu acrescenta os nomes de contemporâneos e conterrâneos espanhóis, como Vicente Muñoz Puelles, Miguel Griot e Jordi Sierra i Fabra, que também refletem sobre temas complexos junto ao público infantil e juvenil.

O que acontece, na opinião de Ricardo, é que este tipo de literatura não encontra ressonância. “Não interessa que tenha um peso social, porque evidencia a ambiguidade do poder e dos meios de comunicação”, afirma. “Todo mundo sabe que no mundo há milhares de fazendas, fábricas, minas e lixões onde trabalham crianças. A solução é complexa, porque não se trata apenas de proibir o trabalho infantil, mas de introduzir novas regras de produção e salários justos, algo que o capitalismo certamente não irá facilitar.”

Apesar do contexto sombrio que a rodeia, na ficção, assim como muitas vezes acontece na realidade, a personagem de Lu Shzu não questiona além do que faz e, a sua maneira, está feliz com sua vida ao lado da família. (Diferente de outras dagonmei, ela não é obrigada a dormir na fábrica.) Desta forma, o livro prescinde de fazer um juízo moral e de ser indulgente diante da infância para descortinar uma realidade complexa, à altura dos pequenos leitores.

Em sintonia com a narrativa, a ilustração expressa a sensação – apesar de oferecer sinais de outros sentimentos mais vacilantes, como a raiva ou a tristeza – de que a menina está satisfeita com o que faz. Como compreende a autora de seus traços, Tesa González, “o entorno é sombrio, mas ela é uma menina que o naturaliza. Sua personagem veste roupas coloridas e carrega um lenço vermelho (intencional, como marca de identificação para as outras meninas que trabalham), e seu pequeno mundo vira de pernas para o ar quando reconhece, vê e toca o que não pode possuir, ainda que esteja ao alcance de suas mãos”.

O conflito surge quando a menina passa a querer o que está fora do seu alcance. Somente aí, vulnerável diante do desejo, Lu Shzu se vê exposta e o castigo recai sobre ela. Aparecem, a partir deste momento, outros temas que permeiam a história, para além do trabalho infantil: o perigo do desejo e dos sonhos criados pela publicidade; a dignidade dos antepassados, representada na figura de sua avó, e o conforto das tradições, e como se pode transmiti-los às gerações futuras.

É um livro que, como definiu a editora da Mov Palavras, Dani Gutfreund, traz desafios de diferentes ordens e nos coloca diante de questões importantes em relação à nossa sociedade e formação moral. “Assuntos delicados e complexos são aqueles que mais nos movimentam”, afirma. “O sonho de Lu Shzu deixa ao leitor a tarefa de pensar sobre uma situação que, como muitas, não tem certo e errado."

Embora habite uma realidade crua, o destino da boneca de membros despedaçados que Lu Shzu segue meticulosamente recompondo e construindo ao longo de sua jornada de criança explorada é também uma alegoria da esperança para o leitor que – como convida o autor – se dispuser a abrir o leque do seu olhar. Afinal, como quer a nossa protagonista, “a vida, como as histórias, dá muitas voltas”.


Leitura mediada


Na opinião da ilustradora Tesa González, os temas difíceis são os que oferecem mais espaço ao debate, ao questionamento do bom e do mau, à solução de conflitos. “Se não há conflitos em um conto, seria menos conto”. A partir da sua participação de encontros em escolas com crianças pequenas, ela afirma que O sonho de Lu Shzu é um relato que as impressiona e que ouvem com muitíssima atenção. “Quando começamos a debater sobre o que ouviram, leram e viram, elas ficam perplexas ao saber, ainda que por meio de um conto, que existem crianças que trabalham na atualidade.”

“Se pensarmos um pouco nos contos tradicionais, não acredito que tenham temas fáceis. Crescemos com eles e seguem atuais. Quando lemos, nos identificamos com os personagens (...) e não me parece que tenham nos traumatizado”, defende Tesa. A seu ver, temos de falar mais com as crianças sobre o que leem, resolver suas dúvidas, aprender a gerenciar as emoções que surgem a partir da leitura.

Para o autor Ricardo Gómez, o desconcerto dos mediadores é compreensível – em termos. “Vivemos em sociedades imersas em doutrina, publicidade, moda, medo, egoísmo, banalidade e estupidez, na qual existem também pessoas que praticam a amizade, a generosidade, o amor, a solidariedade e o heroísmo”, constata. “Com os meios de comunicação atuais e sem ler um só livro, as crianças e os jovens são conscientes de que existem situações ‘difíceis’. Como disse Tesa, nós, seres humanos, aprendemos com os contos clássicos a reconhecer o mal, a sermos prevenidos, como se manifesta a inveja... A literatura é precisamente o que nos permite organizar o ruído do mundo e nos fortalecer para viver nele.”

Fonte: Promennino

H1N1 em circulação não tem mutação perigosa, revela sequenciamento

Imagem de microscopia eletrônica de transmissão colorida digitalmente mostra agrupamento de partículas de H1N1 (Foto: National Institute of Allergy and Infectious Diseases (NIAID))
Instituto Evandro Chagas fez sequenciamento parcial do genoma do vírus.
H1N1 já provocou 71 mortes em surto que começou antes do previsto.


O vírus H1N1 que circula hoje no Brasil não tem certas mutações perigosas associadas a casos mais graves da doença, segundo pesquisadores do Instituto Evandro Chagas (IEC), no Pará. Para chegar a essa conclusão, eles fizeram o sequenciamento parcial do genoma do vírus a partir de amostras de pacientes infectados coletadas nos primeiros meses do ano em diferentes estados do país.

Segundo a pesquisadora do IEC Mirleide Cordeiro dos Santos, o estudo partiu de uma preocupação: no ano passado, mutações foram identificadas no H1N1 que circulou na Índia e levou a uma grande epidemia no país. Essas mutações, encontradas no gene que codifica a hemaglutinina, proteína que tem como função ligar o vírus à célula hospedeira, levaram a uma maior patogenicidade do vírus. Isso significa que ele tinha uma capacidade maior de provocar sintomas a partir da entrada no organismo do paciente.

Os cientistas do IEC resolveram sequenciar parte do genoma do H1N1 para verificar se o vírus em circulação no Brasil tinha essas mesmas mutações. O resultado foi que elas não estão presentes. “Em relação a esse gene, o vírus não é mais patogênico do que o que circulou em 2009 ou 2013 (anos que tiveram epidemias de H1N1 no Brasil)”, diz Mirleide.

A descoberta assegura que a cepa do vírus em circulação é a mesma da vacina contra influenza disponível hoje. Mirleide observa que, como o H1N1 é um vírus que tem RNA como material genético, ele apresenta uma grande variabilidade genética, e pode sofrer mutações de uma estação para outra. Saber que o vírus atual não sofreu essas mutações nocivas identificadas na Índia, portanto, é uma boa notícia.

Vírus já provocou 71 mortes

O número inesperado de casos e de mortes por H1N1 este ano – foram 444 casos de síndrome respiratória aguda por influenza H1N1 e 71 mortes até 26 de março, segundo o Ministério da Saúde – provavelmente se deve ao adiantamento da chegada do vírus ao país, antes do início da vacinação, segundo Mirleide.

“Como a população ainda não estava vacinada e o vírus não circulava com intensidade grande desde 2013, havia uma população muito suscetível”, diz a pesquisadora. Agora, ela e sua equipe buscam fazer o sequenciamento completo do vírus, o que pode revelar, por exemplo, de onde exatamente veio a cepa que atingiu o país.

Especialistas discutem várias hipóteses que podem explicar a antecipação da chegada do vírus, que vão desde fatores climáticos até o aumento de viagens internacionais que podem ter trazido o H1N1 que circulava no hemisfério norte.

Fonte: BEM ESTAR

sexta-feira, 8 de abril de 2016

Mortes de crianças por acidentes com eletricidade aumentam mais de 50% no Brasil

32 crianças de até 5 anos morreram por causa de choques elétricos no país em 2015, segundo levantamento da Abracopel

Por Juliana Malacarne - atualizada em 30/03/2016 16h26

A curiosidade indiscriminada das crianças pode levá-las a algumas situações perigosas principalmente perto de objetos relacionados à eletricidade como fios, cabos e tomadas. Em 2015, 32 crianças brasileiras de 0 a 5 anos foram vítimas fatais de acidentes envolvendo eletricidade, de acordo com um levantamento da Associação Brasileira de Conscientização para os Perigos da Eletricidade (Abracopel).

O número representa um aumento de mais de 50% em relação a 2014, quando 20 mortes por choque elétrico nessa faixa etária foram registradas. No geral, porém, os acidentes fatais ligados a eletricidade diminuíram. Em 2014, foram 627 e em 2015, 590, o que ressalta a necessidade de voltar a atenção para a prevenção com as crianças.

Perigo dentro de casa

Dos 32 acidentes fatais com crianças de até 5 anos, 28 aconteceram no ambiente doméstico e apenas 4 na rua, com a criança entrando em contato com fio partido ou poste energizado. Dentro de casa, os maiores perigos são tomadas sem proteção, fios desencapados e, benjamins (Ts).

Para o engenheiro eletricista Hilton Moreno, consultor do Programa Casa Segura e do Procobre, uma das melhores maneiras de proteger os pequenos contra choques elétricos é explicar a eles sobre os riscos da eletricidade e garantir que a casa seja um ambiente seguro. “Os pais devem estar atentos para não colocar coisas atraentes para crianças, como cestas de brinquedos, perto de tomadas”, afirma. “Além disso, vale comprar aqueles protetores de plástico e instalar um DR, Dispositivo Diferencial Residual, no quadro de eletricidade”.

O DR é um dispositivo de instalação obrigatório, segundo normas da ABNT, que desliga a energia em 20 milissegundos quando é detectada uma corrente de fuga à terra, uma espécie de "vazamento" da corrente elétrica. Dessa maneira, é possível evitar que a tomada dê choques elétricos capazes de provocar paralisia ou queimaduras.

Cuidado com os fios

Os pais também devem ficar atentos aos fios, pois, além de apresentarem perigo de enforcamento, podem dar choques. “Quando o fio fica exposto, como no caso de uma extensão, ou gambiarra, ele vai se desgastando com o tempo”, explica Hilton. “É como um cano de água que vai ficando cheio de furinhos, só que, em vez de escapar água, escapa eletricidade. Por isso, é sempre importante manter os fios fora do alcance de crianças, que podem até mordê-los”.

Outra recomendação de Hilton é tirar da tomada todos os aparelhos eletrônicos em caso de tempestade, já que eles podem sofrer sobrecarga. Dependendo da descarga elétrica, os objetos podem até explodir e provocar incêndios, que também são causa de fatalidades. Em 2015, 174 incêndios domésticos relacionados a eletricidade (curto circuito, aquecimento dos fios, etc) foram registrados e fizeram 31 vítimas fatais, de acordo com dados da Abracopel.

Nos incêndios domésticos, o benjamim é um dos principais vilões. Ele permite que vários aparelhos funcionem na mesma tomada, mas pode aquecer a ponto de iniciar um incêndio quando utilizado de forma incorreta. De acordo com o engenheiro eletricista, os benjamins foram feitos para serem usados em eletrônicos, nunca em eletrodomésticos como o chuveiro, a geladeira e o fogão, que têm uma grande demanda de energia.

“Uma boa maneira de perceber se o benjamim não está sobrecarregado é colocar a mão sobre ele quando os aparelhos estiverem em funcionamento”, afirma Hilton. “Se você conseguir ficar com a mão ali por um período indeterminado, tudo bem. Agora, se estiver tão quente a ponto de você só conseguir mantê-la por alguns instantes, é sinal de sobrecarga, e os aparelhos devem ser desligados imediatamente”.

Primeiros socorros
Se mesmo depois de tomar todas as precauções, algum membro da família tomar um choque, a primeira providência é correr até o quadro geral e desligar a energia da casa. Se não for possível, interrompa o contato da vítima com a corrente elétrica usando algum material isolante como um pedaço de pau ou um chinelo de borracha.

O pediatra Renato Mikio Moriya, membro do Departamento Científico de Segurança da Sociedade Brasileira de Pediatria, ressalta que a primeira atitude deve ser ligar para um serviço de emergência, mas, enquanto ele não chega, existem alguns primeiros socorros que podem ser executados. “Se você perceber que alguma parte do corpo da vítima tem queimaduras resfrie somente com água fria abundante e panos molhados”, afirma.

Caso a pessoa esteja inconsciente, aproxime o ouvido da boca dela e observe o movimento do tórax. Verifique também se ela teve parada cardíaca, sentindo a pulsação nos punhos, pescoço ou virilha. Nos casos, em que não há pulso, se possível, faça manobras de ressuscitação cardiopulmonar, compostas por ciclos de 30 compressões cardíacas e duas respirações, até a chegada do socorro.

Fonte: Crescer

8 de Abril - Dia Mundial de Combate ao Câncer

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Todos nós sabemos que a luta contra o câncer é diária. No Dia Mundial do Combate ao Câncer, data criada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), é importante chamar ainda mais atenção de todas as nações, líderes governamentais e do público em geral para a importância da discussão dessa doença que atinge altos índices. A prevenção ainda é o melhor caminho para se evitar a doença. "Há dois tipos de prevenção: prevenção primária e secundária. A primeira consiste na mudança dos hábitos pessoais de um indivíduo com o objetivo de reduzir a influência dos fatores ambientais causadores de uma determinada doença. A segunda, diferentemente, foca no seu diagnóstico precoce, partindo da premissa de que, quanto antes for feito o diagnóstico do câncer, maiores são as chances de cura do paciente.

Fonte: Facebook

terça-feira, 5 de abril de 2016

Distúrbio do sono incurável afeta cerca de 800 crianças que tomaram vacina contra H1N1 na Europa

Cerca de 800 crianças europeias desenvolveram narcolepsia – uma doença incurável que causa crises de sono incontroláveis durante o dia – após terem recebido a vacina Pandemrix, contra o vírus da gripe H1N1 ('gripe suína'), produzida pela GlaxoSmithKline.

A jovem Emelie Olsson, de 14 anos, é uma delas. Ela tem dificuldade de se manter acordada durante o dia e perde aulas com frequência por causa do problema. Ao acordar, ela às vezes fica paralisada, com falta de ar e sem conseguir pedir ajuda. Além disso, ela tem pesadelos e alucinações.

Países como a Finlândia, a Noruega, a Irlanda e a França também registraram aumento nos casos de narcolepsia em crianças após a implementação da vacina. Por causa disso, a agência reguladora de remédios europeia decidiu restringir o uso da vacina em jovens abaixo dos 20 anos.

Já para o médico Emmanuel Mignot, da Universidade de Stanford (EUA), considerado um dos maiores especialistas em narcolepsia do mundo, não há dúvidas de que a vacina fez aumentar a ocorrência de narcolepsia. Mas ele concorda que ainda é preciso fazer mais pesquisas.

Mais de 30 milhões de pessoas de 47 países receberam a vacina da Glaxo entre 2009 e 2010. A companhia diz que 795 pessoas foram diagnosticadas com narcolepsia na Europa desde o início do uso da vacina.

Segundo o Ministério da Saúde, a vacina adquirida em 2010 para imunização contra a H1N1 no Brasil não é a Pandemrix e não houve nenhum caso de narcolepsia associada a vacina no país.

Os cientistas ainda estão pesquisando o que, na vacina, pode deflagrar a doença. Alguns sugerem que é o adjuvante, chamado de AS03. Outros, que é o próprio vírus H1N1 o responsável por causar narcolepsia em pessoas geneticamente predispostas.

Mas os especialistas concordam que é preciso cautela para não gerar pânico na população. "Ninguém quer ser o próximo Wakefield", disse Mignot à Reuters, referindo-se ao médico britânico Andrew Wakefield, que perdeu seu registro após ter associado a vacina contra sarampo, caxumba e rubéola ao autismo.

Equipes independentes de pesquisadores já publicaram estudos revisados por outros especialistas na Suécia, na Finlândia e na Islândia. Todos eles mostraram que o risco de narcolepsia aumentou de sete a 13 vezes entre as crianças que tomaram a vacina, em comparação com as que não tomaram.

O médico especializado em saúde pública Goran Stiernstedt, da Suécia, questiona se valeu a pena imunizar a população - ele ajudou a coordenar a campanha no país.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a pandemia de gripe H1N1, de 2009 e 2010, causou 18.500 mortes, embora um estudo publicado no ano passado conclua que o número foi 15 vezes maior.

Stiernstedt estima que a vacinação evitou a morte de 30 a 60 pessoas por gripe. Mas pode ter deflagrado 200 casos de narcolepsia, uma doença incapacitante. Para ele, trata-se de uma "tragédia médica".

Já o diretor de imunizações do governo britânico, David Salisbury, acredita que, diante de uma pandemia, o risco de morte é bem mais grave que o risco de narcolepsia. Para ele, caso os pesquisadores tivessem dedicado mais tempo às pesquisas com a vacina, muito mais gente teria morrido.

(Com Reuters e Folha.com)

Fonte: UOL Notícias

segunda-feira, 4 de abril de 2016

Casas subterrâneas do povo Kaingang

Os kaingang, uma das 305 atuais etnias do Brasil, já habitavam o Planalto Meridional Brasileiro três mil anos antes da chegada dos europeus. Estes povos eram conhecidos como Proto-Kaingang, povos da Tradição Taquara ou Povo das Casas Subterrâneas.

A arqueologia do sul do Brasil tem dado atenção, desde a década de 60, a um tipo muito especial de antiga ocupação humana encontrada em muitos pontos de planalto nos estados de São Paulo, Paraná e, principalmente, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, além de alguns achados semelhantes próximos ao litoral, no sul de Santa Catarina.

Para se proteger do inverno rigoroso que castiga as elevadas regiões do Sul do Brasil, chamados Campos de Cima da Serra, construíam suas casas de forma enterrada, mantendo-as, assim, protegidas dos ventos fortes e gelados que cortam o planalto.
Por vezes, as paredes eram compactadas com argila mais fina, resultando em uma camada de revestimento. O teto era apoiado sobre estacas: uma estaca principal no centro, que descia até o chão da casa, e estacas laterais, que irradiavam do mastro central e se apoiavam na superfície do solo, na parte externa. Este teto ficava pouco acima do nível do terreno, garantindo ventilação, iluminação e trânsito.

Trata-se de verdadeiras casas circulares, escavadas na terra: em alguns casos, em rocha basáltica, em outros, em basalto composto ou rocha mole de arenito. Suas dimensões são variáveis; os registros mais importantes revelam estruturas com tamanhos médios entre 2 e 13 metros de diâmetro com profundidade média de 2,5 a 5 metros de altura, havendo casos registrados de 4 e até 6 metros de profundidade. Segundo a descrição de vários pesquisadores, com base nas casas melhor conservadas, sobre a cova circular que delimitava a casa, erguia-se uma cobertura de folhas sustentada em uma armação de madeira, em parte fixada na base da casa, e em parte fixada nas bordas laterais da cova, inclusive com o auxílio de pedras.

Em algumas casas os arqueólogos mencionam ter encontrado um revestimento de piso e, em outras, revestimento em pedra nas paredes ou parte delas.
Ainda que, em um número significativo de sítios arqueológicos se encontrem casas subterrâneas isoladas, é comum encontrar-se conjuntos dessas casas, seja formando
pares, seja formando verdadeiras aldeias de mais de 5 casas, sendo vários os
agrupamentos entre 8 e 10 delas, e havendo, mesmo, casos de mais de 20 casas em um mesmo lugar. O espaçamento entre essas casas varia de 1 a 10 metros, em média.

Ainda que alguns arqueólogos tenham sugerido que as casas subterrâneas não teriam sido, de fato, casas de habitação, mas apenas centros cerimoniais, a posição mais comum e sustentável indica que realmente essas estruturas eram a residências dos grupos humanos que as construíram. O arqueólogo André Prous também descarta a hipótese de que as casas maiores fossem apenas centros cerimoniais, enquanto as menores seriam de moradia, uma vez que, com freqüência, as casas maiores ocorrem isoladas ou estão presentes justamente nos menores conjuntos de casas subterrâneas.
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É importante, porém, observar-se a época em que as casas subterrâneas foram construídas e habitadas, para pensarmos na relação delas com outras formas de habitação antigas dos Kaingang. A arqueologia brasileira tem relacionado as casas subterrâneas com o que convencionou chamar de “tradição Taquara-Itararé”. Segundo Prous, para essa tradição “até há pouco, as datações mais antigas eram
exclusivamente do Rio Grande do Sul, entre o primeiro e o sexto século de nossa era.

Várias outras obtidas para o mesmo estado, Argentina e Paraná eram do século XIV, e duas do início do período histórico. Recentemente, datações de 475 AD (fase Candoi) e 500 AD na Argentina vieram mostrar que a cultura das casas subterrâneas desenvolveu-se em diversas regiões, grosso modo, na mesma época, e não se pode descartar a possibilidade de aparecerem, com as novas pesquisas, datações tão antigas quanto a, isolada por enquanto, de 140 AD para a fase Guatambu, cujo término foi datado de 1790 AD”.

Fonte: Multiplica
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